“Ressonar pode ser um importante sinal de alerta!
Estamos cada vez mais, a dormir cada vez menos e muitos doentes não têm as patologias diagnosticadas ou tratadas. É fundamental alertar para os problemas de saúde que resultam disso mesmo”.
Palavras da nossa Otorrinolaringologista, Drª Beatrice Neves, que se tem dedicado ao diagnostico e tratamento da roncopatia e que aqui partilha considerações importantes sobre este assunto para que possa procurar ajuda caso se identifique com alguns alertas.
O ressonar resulta da vibração dos tecidos moles no nariz e na garganta, particularmente no palato mole (parte posterior do céu da boca) devido ao relaxamento dos músculos durante o sono.
Estima-se que cerca de 57% dos homens e 40% das mulheres ressonem, e que se torne mais comum com o envelhecimento.
O ressonar primário é apenas o ronco, que não faz com que as pessoas acordem mais vezes do que o normal durante a noite. A quantidade de fluxo de ar para os pulmões e o nível de oxigénio no sangue são normais pelo que as pessoas não têm sonolência excessiva durante o dia.
Mas o ressonar pode ser sintoma de uma das doenças do sono mais comuns, a APNEIA.
Perturbação respiratória, que consiste numa pausa da respiração durante o sono, afecta 1 em cada 5 mulheres entre os 30 e os 70 anos e mais de 3 em cada 10 homens.
“O sintoma mais comum de apneia do sono é a roncopatia [ressonar]. A este sinal juntam-se a sonolência excessiva, cansaço sem motivo aparente e a falta de energia para as actividades diárias ou para praticar exercício físico, pressão arterial alta e dores de cabeça matinais, urinar a meio da noite, etc.”- explica a nossa especialista.
Contudo, a apneia não é a única doença do sono na lista das mais de 100 doenças do sono. Há também a insónia, a privação do sono e as pernas inquietas (e muitas outras patologias).
A insónia provoca sensação de sono não reparador, de dormir pouco ou mal, acordar cansado de manhã ou muitas vezes durante a noite, ter problemas de concentração e perda de memória durante o dia.
Da privação do sono, os sintomas são o cansaço, dores de cabeça, ter vontade de dormir, humor difícil e problemas de memória e concentração.
Por fim, as pernas inquietas causam uma vontade irresistível de mexer as pernas o que dificulta o adormecer. Têm tendência a dormir mal e acordam muitas vezes cansadas.
Como quem ressona nem sempre ouve o ruído que faz enquanto dorme, acaba por não ter noção do quão incomodativo pode ser para quem está por perto.
No entanto, isto não deve ser ignorado. É sinal de doença e pode até ser grave.
O ressonar é angustiante principalmente para as outras pessoas, normalmente para o(a) companheiro(a) ou para o colega de quarto, podendo ter consequências sociais significativas.
Complicações
Não está claro se ressonar apresenta efeitos colaterais.
No entanto, as pessoas que apresentam OSA (apneia obstrutiva do sono) têm um risco aumentado de hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, doenças cardíacas e diabetes.
Os fatores de risco do ressonar incluem:
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Idade avançada (acima de 50 anos)
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Obesidade, especialmente a gordura distribuída ao redor do pescoço ou da barriga
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Uso de álcool ou outros sedativos
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Congestão nasal a longo prazo (crónica)
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Mandíbula pequena ou uma mandíbula que seja mais recuada que o normal
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Menopausa
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Ser do sexo masculino
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Gravidez
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Anomalias que podem bloquear o fluxo de ar, como amígdalas aumentadas, um septo nasal desviado e pólipos nasais
Sinais de alerta
As pessoas que apresentam sinais de alerta devem consultar um médico, pois pode ser necessária a realização de exames.
Os sintomas a seguir devem ser considerados preocupantes:
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Episódios de falta de respiração ou de asfixia durante o sono (conforme testemunhado por um[a] companheiro[a])
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Cefaleias ao acordar pela manhã
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Sonolência extrema durante o dia
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Obesidade
Ressonar muito alto e constante
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Por vezes pressão arterial alta
O que faz o médico?
Além de um questionário médico e recolha de dados clínicos, os médicos também observam o nariz e a boca para sinais de obstrução das vias aéreas e factores de risco para o ressonar.
(por exemplo, pólipos nasais, um desvio do septo, congestão nasal crónica, um palato alto e arqueado, uma mandíbula que seja pequena ou mais recuada que o normal, e a língua, amígdalas ou úvula alargada).
Quanto maior for o número de fatores de risco e de sinais de alerta que apresentar, maior é o risco de OSA.
Exames
O teste consiste em polissonografia. Para esse teste, as pessoas dormem durante a noite num laboratório do sono ou em casa, enquanto são monitorizadas a respiração e outras funções.
Se uma pessoa para além de ressonar não parece ter qualquer perturbação do sono não precisa de realizar exames mas devem ser acompanhadas regularmente pelo médico.
Tratamento da roncopatia
O tratamento para o ressonar por si só inclui medidas gerais para eliminar factores de risco e métodos físicos para abrir as vias aéreas.
Várias medidas gerais podem ajudar a reduzir o ressonar primário:
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Evitar álcool e medicamentos sedativos por várias horas antes de dormir
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Dormir com a cabeça elevada (elevar a cabeceira da cama e não apenas a cabeça com almofadas)
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Perda de peso
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Tratamento de qualquer congestão nasal – por exemplo, com descongestionantes e/ou um spray nasal com corticosteroide ou com tiras elásticas que mantêm as narinas abertas.
Os aparelhos intra orais são utilizados apenas durante o sono com o objectivo de empurrar o maxilar inferior (a mandíbula) e a língua para a frente e, assim, ajudam a manter as vias aéreas abertas durante o sono.
Estes aparelhos podem ser utilizados sozinhos ou com outros tratamentos para resolver problemas respiratórios relacionados com o sono (ex. controlo de peso, cirurgia, ou pressão positiva contínua nas vias aéreas-CPAP).
Pressão positiva contínua nas vias aéreas (Continuous positive airway pressure, CPAP)
Com a CPAP, as pessoas respiram através de uma pequena máscara aplicada no nariz ou na boca e no nariz. A máscara está ligada a um dispositivo que fornece ar a uma pressão que ajuda a prevenir o estreitamento ou o colapso das vias aéreas quando as pessoas respiram (o que ocorre na maior parte do ressonar).
A CPAP fornece um alívio muito eficaz de OSA e ajuda a reduzir a roncopatia, mas é raramente utilizado para tratar a roncopatia sem OSA. Algumas pessoas acham os dispositivos CPAP desconfortáveis ou inconvenientes, mas a maioria das pessoas com OSA ficam confortáveis utilizando esses dispositivos.
Cirurgia
Algumas obstruções das vias aéreas que contribuem para o ressonar podem ser tratadas cirurgicamente, como pólipos nasais, amígdalas de tamanho aumentado, e um desvio de septo. Mas ainda não foi provado se, e como, tais procedimentos reduzem o ressonar.
CONCLUSÕES:
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Apenas algumas pessoas que ressonam têm apneia do sono obstrutiva (OSA), mas a maioria das pessoas que têm OSA ressonam.
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Os sinais de alerta, como episódios de falta de respiração ou de asfixia durante o sono, sonolência diurna e obesidade, ajudam a identificar as pessoas com risco de OSA e, portanto, a necessidade de testes com a polissonografia.
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Medidas gerais para reduzir o ressonar incluem o corte do consumo de álcool e de medicamentos sedativos antes de deitar, dormir com a cabeça elevada, perda de peso e, para o(a) companheiro(a), utilizar protectores de ouvido e possuir meios alternativos para dormir.
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Tratamentos específicos para ressonar incluem dispositivos para manter as vias aéreas abertas e em alguns casos cirurgia.